domingo, 9 de janeiro de 2022

Memória

Famalicão, 2022

A onda que lava os passos na areia
não apaga a memória da praia.
Fluída se faz aroma, calor e cor,
que o vento leva devagar
para viver seu ser
em outro lugar...

Como molécula de maresia.

E, em ensejo e instante,
cristaliza, limpa e fresca,
na razão de um lembrar,
uma palavra com sentido
um gesto ou um olhar,

Bem para cá
das dunas
do tempo.


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Silêncios

Gruta das Alcobertas (2017)

Metalizou-se sonora,
em tela vibrante e líquida,
bordejada a tons de terra e fogo,
uma gota de cristal,
desprendida do véu do silêncio.

E o som, cristalino e puro,
desenhado em círculos de ouro,
na superfície da água,
não feriu o silêncio da câmara.
Não desassossegou, nem um instante,
a luz e as sombras que se dão
à atenção do olhar.

Antes o fecundou de sentido.
E o silêncio, gotejado a espaços,
vive de vida, vive de paz,
É terra que apraz
e que, fresca e pura,
abraça e acolhe
os sentidos e o ser.


Gruta das Alcobertas (2017)

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Ferrugem

Vila Nova de Famalicão, 2008

Envelheço aos poucos, em tardes de inverno
e os dias do ser ganham cores de frio.
Envelhecem os olhos, o peito e a pele,
gretam-se humores, em saudades de estio.


Mas fundo na alma, arde bem quente,
vontade de criar o futuro e a sorte.
E a pele gretada e seca, somente
cobre sangue escarlate em aço forte.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Às tardes


Vila Nova de Famalicão, 2016


Às tardes,
leio nas cores da lua nascente
as palavras de um poema que não escrevo
E o enredo
de uma história diferente
da escrita pelas horas do dia.

Às tardes,
não escrevo as palavras da lua
e o poema fica lá, no olhar que a contempla
e no silêncio quente do poente. 

Às vezes, a lua é regresso à poesia.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Sou da luz!

Árvore (Vila do Conde); 2014

Quero ter o infinito no olhar e claros horizontes na alma.
E o infinito, e o horizonte começam sempre aqui,
Na singela, mas clara voz do meu querer.
Não sou das trevas.

Sou da luz!

sábado, 28 de junho de 2014

Sempre a palavra

Famalicão, 2014

Toco o veludo das margens dos sonhos
com o silêncio das palavras escritas
enquanto me adentro na noite sem lua.

A luz ficou retida no brilho doce
dos sorrisos rosados das pétalas
colhidos a meia tarde.

Depois, a noite!
Temperada de memória
pelas palavras escritas
que não ferem as fibras suaves
de que são feitos os sonhos.

Cada uma,
desprende-se e escorre
do aparo do pensar
e em silêncio se aconchega,
sentida e sem se pronunciar,
sobre o veludo das margens dos sonhos.

domingo, 10 de novembro de 2013

Busca de ser

Leiria, 2013
Procurei-me nas palavras
mas não me achei.

Sem se exercerem
teimam ser miragem
na abóbada dos silêncios
e o oco eco de vazio
goteja em cristais de fel.

Amargo silêncio
das palavras vazias.

Das palavras…
que se esperam

na busca de ser!

domingo, 13 de outubro de 2013

Palavras

Esposende (Marinhas), 2013

Gosto das palavras roladas
que se desprendem das páginas dos livros
que leio em tardes soalheiras.

Mastigo-as
e coloco-as umas sobre as outras
num monte de palavras lidas.

Às vezes,
pouso-as de novo entre as páginas,
para se tocarem com outras,
para as reler,
como brotadas na hora.

Outras vezes leio-as,
rolando no monte das palavras lidas
com aquele som das palavras que se tocam com outras
e assim se fraseiam de surpresa.

Gosto das palavras roladas
que se jogam em frases e textos,
nos livros que leio em tardes soalheiras.

Gosto de as fazer minhas,
de as ter, assim dadas
pelas páginas dos livros…
esses…
esses que leio em tardes soalheiras.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Passos

Viana do Castelo, 2013

Saberá o ar, a praia e o mar a direção dos meus passos?
Saberei eu onde todos me levam?
Ou haverá em cada passo um estranho destino de ser único, sequencial e precedente que  determina o seguinte, independente do que sou no momento em que o exerço?

Onde me levam os passos?
Qual a direção dos meus passos?

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Quase descomposta

Arrimal (Serra dos Candeeiros), 2013

Deixei que um olhar visitasse minhas cores
e todas elas se vestiram de vaidade,
Entre traços de volúpia e pudor.

E já não houve seara dourada
nem prado verde de pasto.
Nem houve céu,
nem horizonte,
nem tempo!
E já não houve cor para lá do meu vestido.

Sorri, corei, dancei…
E apenas me descompunha

O vento do teu olhar.